A cheia dos rios no Amazonas já colocou 17 municípios em situação de emergência, segundo o boletim mais recente da Defesa Civil do Estado, divulgado nesta sexta-feira (9). Ao todo, 144 mil pessoas estão sendo impactadas pelo fenômeno natural.

Ribeirinho navega pelo rio Amazonas em meio à cheia que já ultrapassa os 7 metros, realidade que afeta o dia a dia de comunidades nas áreas alagadas — Foto: Arney Barreto/TV Tapajós

O cenário ainda deve se prolongar. De acordo com o Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, as nove calhas dos rios amazonenses continuam em processo de cheia até, pelo menos, o mês de junho.

Nesta última atualização, os municípios de Santo Antônio do Içá, Amaturá e Juruá, todos banhados pelo Rio Solimões, saíram do estado de alerta e entraram em emergência.

Confira a lista dos 17 municípios que estão em situação de emergência e as medições nesta sexta-feira (9):

  • Humaitá – Rio Madeira – 23,14 metros
  • Apuí – Rio Madeira – não divulgado
  • Manicoré – Rio Madeira – 27,46 metros
  • Boca do Acre – Rio Purus – 11 metros
  • Guajará – Rio Juruá – 9,95 metros
  • Ipixuna – Rio Juruá – 11,14 metros
  • Novo Aripuanã – Rio Madeira – não divulgado
  • Benjamin Constant – Rio Solimões – não divulgado
  • Borba – Rio Madeira – 21,52 metros
  • Tonantins – Rio Amazonas – 16,03 metros
  • Itamarati – Rio Juruá – 19,81 metros
  • Eirunepé – Rio Juruá – 15,07 metros
  • Atalaia do Norte – Rio Solimões – 14,13 metros
  • Careiro– Rio Solimões – 18,77 metros
  • Santo Antônio do Içá – Rio Solimões – 13,64 metros
  • Amaturá – Rio Solimões – não divulgado
  • Juruá – Rio Solimões – 23,40 metros

Além dos municípios em emergência:

  • 17 estão em estado de atenção,
  • 27 em alerta,
  • e um em normalidade.

Segundo o meteorologista e pesquisador Leonardo Vergasta, dois fenômenos explicam o aumento no volume dos rios em comparação a 2024:

  • O Inverno Amazônico, que traz chuvas acima da média para a Região Norte e deve durar até o fim de maio.
  • O La Niña, que chegou ao fim em abril, mas deixou consequências.

“No início de 2025, tivemos a atuação do La Niña, que resfria as águas do Pacífico Equatorial. Isso aumenta a intensidade das chuvas na região. Como coincidiu com nosso período chuvoso, desde fevereiro, toda a bacia amazônica registrou volumes de chuva acima do normal”, explicou o pesquisador.

Águas do Rio Madeira encobrem Transamazônica

Águas do Rio Madeira encobrem rodovia Transamazônica, no Amazonas, e afeta moradores. — Foto: Rede Amazônica

A Transamazônica desapareceu sob as águas do Rio Madeira, durante o período de cheia. Vinte quilômetros da rodovia estão submersos. A BR-230 é a única via terrestre que dá acesso de Humaitá à cidade de Apuí e ao distrito de Santo Antônio do Matupi, em Manicoré, todos em situação de emergência.

O ônibus que faz o trajeto entre as Humaitá e Apuí deixa os passageiros até o local onde é possível trafegar, mas para seguir viagem até o outro lado da rodovia, só através de uma pequena embarcação.

A espera chega a até 3 horas e sai lotada, sem segurança e sem colete salva vidas. Cada passageiro ainda precisa desembolsar R$ 100 por um trecho de uma hora e meia e o caminho é feito no meio da floresta alagada.

Além das despesas com ônibus, a dona de casa Adriana Carneiro, pagou R$ 180 para levar os dois filhos para a escola, no município de Humaitá.

“R$ 180 reais só pra ir, pra voltar mais R$ 180. Isso se não tiver que pagar bagagem, porque às vezes passa do limite. Aqui não teve, não teve ajuda de ninguém até o momento”, disse a dona de casa durante o trajeto.

Os reflexos da cheia já impactam o comércio em Apuí e no distrito de Santo Antônio do Matupi, segundo o comerciante Gildásio da Silva Filho.

“Hoje estamos enfrentando problemas. A gasolina aumentou R$ 0,30, R$ 0,40. Para nós, isso é muito. O gás, que custava R$ 120, teve um acréscimo de R$ 25 a R$ 30 por botijão. Não é que estão se aproveitando da situação, é o frete que está caro”, relatou.

Com a estrada submersa, caminhões e carretas precisaram mudar a rota. Agora, os veículos param em um porto particular em Humaitá e seguem até Apuí por balsas alugadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

O trajeto, que antes levava cerca de 12 horas pela Transamazônica, passou a durar, em média, quatro dias, navegando pelos rios Madeira e Aripuanã até a comunidade da Prainha — de onde a carga finalmente segue viagem por terra.

A cheia do Rio Madeira afeta ao menos dez cidades do Amazonas. O município de Humaitá é um dos mais impactados pelo alto nível do rio, e nesta quarta-feira atingiu a cota de 23,44 metros, e se aproxima da cota histórica de 25,63 metros.

  • 🔴 Cota máxima registrada (2014): 25,63m
  •  Cota de alerta: 15,00m

Na Zona Rural de Humaitá, a cheia está devastando plantações e afetando a rotina escolar. De acordo com a Defesa Civil, cerca de 16 mil pessoas já foram afetadas pela cheia do rio.